Comemoração de dois anos do IF SP- Campus
Pirituba Noroeste com:
José
Soró – Coordenador da Comunidade Cultural Quilombaque em Perus
Miguel
Gomes Lima- Membro da coordenação da união dos movimentos de
moradia de São Paulo
Helena
Cardoso – União dos Movimentos
Populares de Saúde
Vanderley
Egidio – Integrante do Mocupija – Movimento Cultural Pirituba
Jaraguá
Sandro
Baal Demary -Diretor do Teatro Silva
Na
primeira semana de agosto o Instituto Federal de Educação Ciência
e Tecnologia – Campus Pirituba, ou como diz os movimentos sociais
Campus Noroeste, completou dois anos de existência. A programação
de comemoração contou com diversas atividades. Tive a oportunidade
de acompanhar uma delas: a mesa redonda lutas e conquistas
populares. Segue abaixo um
resumo do que aconteceu nela.
Abertura
Na
abertura Cynthia diretora do Campus contou um pouco a história
do campus Pirituba explicando a definição do dia 08 de Agosto de
2016 como o momento de inauguração, pois foi quando chegaram os(as)
primeiros (as) estudantes. Foi uma inauguração acelerada pois a
conjuntura da época era nebulosa (Processo de impeachment da
Presidenta Dilma Rousseff).
A
diretora coloca como principal objetivo da mesa redonda dar voz aos
movimentos sociais que lutaram pelo Campus do Instituto Federal da
região noroeste de São Paulo, abrangendo os distritos de
Brasilândia, Pirituba, Jaraguá e Perus, além das cidades de
Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato.
A
partir da semana que vem Francisco assume como diretor do campus
Pirituba animado com a trajetória do campus. Ele possui cerca de
1800 alunos, sendo pelo menos 580 alunos fixos e os demais dos cursos
de curta duração. Francisco foi eleito diretor do Campus
Pirituba-Noroestei
com 75% de votos numa eleição que contou com alta participação
dos estudantes do campus: 75% de votantes.
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Na mesa da esquerda para a direita: José Soró, Miguel Gomes, Helena Cardoso,Vanderley Egidio e Sandro Baal Demary |
Resumo
da fala dos integrantes da mesa
José
Soró
Abrindo a fala dos movimento populares José Soró comentou sobre as
dificuldades de se entrar na faculdade antigamente. Em seguida,
relembrando suas experiências com a população de rua, jovens, etc.
Soró comentou sobre o quão violenta é a sociedade brasileira,
lembrando que de cada dez jovens assassinados sete são negros,
constituindo-se um verdadeiro genocídio da população preta, pobre
e periférica.
Assim
sendo, surge no ano de 2005 em Perus, periferia noroeste de São
Paulo, o Movimento Cultural Quilombaque, constituindo-se num
verdadeiro quilombo de resistência através da arte e da cultura
para enfrentar o genocídio da juventude negra.
Com
essa ideia, os integrantes do Quilombaque resolveram formar artistas
com o objetivo de gerar trabalho e renda na periferia. Além disso,
aumentar o universo imaginário e o repertório cultural dos jovens é
um dos objetivos do Quilombaque.
Buscando
parcerias, durante cerca de 3 anos o Quilombaque criou junto da FAU /
USP uma universidade livre e colaborativa que acabou resultando na
ideia do Território de Interesse da Cultura e da Paisagem Jaraguá
Perus (TICP/JP) inserido no Plano Diretor da Cidade de São Paulo,
invertendo a lógica do desenvolvimento/planejamento urbano.
Com
esse instrumento jurídico em mãos as ações do Quilombaque buscam
as potências dos sujeitos periféricos através da arte, cultura e
memória para construir uma identidade com o lugar.
Ocupações
culturais diversas surgem desse trabalho apoiados pelo Quilombaque,
como por exemplo a Ocupação Canhoba do Grupo de Teatro Pandora e a
Casa do Hip Hop no Recanto dos Humildes.
Soró
pontua bem que fazer esses movimentos é um ato político
de enfrentamento !
“-
Se vc não cabe em nenhum lugar, vc cabe lá.” (No
Quilombaque).
Finalizando
sua fala Soró comenta que pensar uma economia edificante através da
cultura e meio ambiente são vitais para gerar trabalho e renda.
Dessa forma, a partir do dia 24 de agosto será inaugurada em Perus a
Agência Queixadas para gerar trabalho e renda através do turismo e
da gastronomia .
Miguel
Gomes
Começando
sua fala Miguel resgata a história do Instituto Federal Campus
Pirituba Noroeste. Primeiramente ele seria na Brasilândia, depois
na Fábrica de Cimento em Perus, posteriormente na Avenida do
Anastácio e por fim chegou-se ao número 951 da Avenida Mutinga.
Essa
luta começa pelos idos de 2009 para a construção do Instituto
Federal da região Noroeste. Um abaixo assinado com cerca de 10 mil
assinaturas é entregue ao então Ministro da Educação Fernando
Haddad que se compromete a construir o campus, desde que a prefeitura
de São Paulo disponibilizasse o terreno.
Prosseguindo
sua fala, Miguel relembra e homenageia três lutadores da causa que
nas suas palavras “Já não estão entre nós” : Fernando
Ferreira, Isaias “Batatinha” e Padre Leno. Descansem em paz !
Dessa
forma os movimento da região pressionam o prefeito Gilberto Kassab
para que se viabilizasse algum terreno para a construção do Campus
Noroeste, porém não obtem sucesso. Em 2012, Fernando Haddad é
eleito prefeito, reabrindo-se o diálogo com os movimentos sociais da
região, garantindo-se assim o terreno da Avenida Mutinga em Pirituba
para construção do Campus Noroeste. Ótima localização, próximo
da estação de trem Pirituba e do terminal de ônibus Pirituba.
Seguindo na pressão dos
movimentos sociais da região, o campus é finalmente inaugurado em
agosto de 2016 começo do golpe.
Em
suma a luta da igreja e dos movimento sociais foram essenciais para a
construção do Campus Pirituba Noroeste. Miguel finaliza sua fala
com a seguinte frase:
“
- E o equipamento é do povo e aberto para o povo, assim que deve
ser! “
Helena
Cardoso
A
morada da Parada de Taipas Helena começa sua fala comentando sobre a
dificuldade para se estudar na década de 50, pois no bairro de
Parada de Taipas existiam apenas duas salas de aula e o exame de
admissão para a quinta série existia apenas em Perus.
Prosseguindo
sua fala, ela comentou sobre as dificuldades e lutas para se obter os
equipamentos básicos na periferia, como asfalto, luz, esgoto,
escolas, hospitais, etc. Comentou também sobre as lutas por educação que
culminaram na construção das escola Humberto e Raúl Pompeia,
atendendo a demanda da região. Pontuou também a importância dos
Ceu’s (Centro Educacional Unificado) como importante conquista da
região. E finalizou sua fala comentando que o Instituto Federal é a
maior conquista.
Vanderley
Egidio
Vanderley
é integrante do Mocupija ( Movimento Cultura Pirituba Jaraguá).
Abriu sua fala comentando sobre a necessidade de se registrar o
encontro. Em seguida, pontuou sobre a provocação contida no nome
Mocupija, intencionalmente de sonoridade indígena.
Comenta
sobre as lutas culturais da região. Pautar o governo sobre as
necessidades da região.
O
Mocupija começa em 2011/ 2012. Seu objetivo é o de inserir a região
Noroeste no mapa cultural da cidade de São Paulo. No ano de 2014
realizam intervenções em espaços públicos, como praças, parques
e CEU’s da região.
Em
2016 ocupam o espaço anexo da Biblioteca Brito Broca em Pirituba com
diversas atividades culturais, pautando o poder público da
necessidade de recuperar esses espaços.
Por
fim, finaliza sua fala apontando a insegurança jurídica que envolve
a situação dos espaços ocupados com arte e cultura, como o espaço
da Brito Broca, mas que ainda não são regularizados pelo poder
público.
Sandro
Baal Demary
Sandro
é diretor do Teatro Silva. Abriu sua fala comentando que o foco
específico da sua atuação é trabalhar com jovens de escolas
públicas. Comentou também que é inerente ao teatro a relação de
interação entre artista e público.
Prosseguindo,
provocou os estudantes do Campus Pirituba Noroeste a se conhecerem,
para assim superarem o medo de se organizarem enquanto coletivo tendo
em mente que os funcionários públicos e gestores é que devem
trabalhar para a gente!
Perguntas
Foram
feitas por parte do público perguntas
para os integrantes da mesa redonda sobre a ditadura
militar, se Fernando Haddad será o próximo presidente do país e
sobre dialogar com o poder público independentemente da gestão que
estiver no poder.
Respostas
José
Soró comentou sobre a necessidade na democracia do cidadão ser
ativo e participante e o que o movimento cultural das periferias vem
criando e inovando, sendo a pressão popular pela Lei de Fomento a
Cultura nas Periferias um grande exemplo de atuação democrática.
Ocupação
Brito Broca.
Miguel
comentou que defender a ditadura militar é pura a ignorância.
Relembrou a vala comum no cemitério de Perus. E comentou também
que atualmente vivemos uma Ditadura Branca por que o governo não faz
investimento na educação, podando as novas gerações de um futuro.
Sobre Fernando Haddad presidente, comentou que o plano A é um só:
Lula e que o STF deve fazer valer a justiça, pois o ex presidente
foi condenado e preso injustamente sem provas.
Vanderley
apontou que independentemente da gestão, o movimento social deve
“guardar sua ideologia no bolso” e lutar pelo diálogo.
Helena
comentou que a ditadura era horrível e que devemos lutar para que
ela nunca mais volte a existir.
Soró
comentou sobre a difícil identificação das ossadas da vala comum
de Perus na qual foram jogadas pessoas mortas por execução e
crianças mortas por uma crise de meningite que não foi divulgada na
época da ditadura militar.
A
diretora Cynthia comentou sobre a necessidade de
organizar as demandas para que os gestores desenvolvam as políticas
públicas que a população deseja.
José Soró
comentou sobre o TICP solicitando que os conhecimentos saiam da
universidade e dialoguem com os espaços da cidade.
Em
outra rodada de perguntas uma participante cobrou um
intérprete de libras para um estudante da instituição, obtendo
como resposta da diretora Cynthia que o Instituto Federal vem
constantemente cobrando o Ministério da Educação para que essa
contratação seja realizada.
Um participante com uma camisa do Lula cobrou a necessidade de se
registrar o encontro com algum equipamento de filmagem. Relembrou
também as raízes indígenas Guarani da nossa região, afinal o
Jaraguá é Guarani!
Por
fim, finalizando a mesa redonda a diretora relembrou um pouco sobre a
necessidade de passarmos de consumidores de conhecimento para
produtores de conhecimento dando - se um salto de qualidade no
desenvolvimento do país.
Conclusão
A
mesa redonda luta e conquistas populares
muito contribuiu para minha formação demonstrando que a classe
trabalhadora deve se organizar
e lutar
para que obtenha seus direitos.
iAdotarei
a nomenclatura Campus Pirituba Noroeste, pois os movimentos sociais
que lutaram pela sua construção abrangem e adotam a região
Noroeste de São Paulo como nome do campus. E Pirituba por ser o
nome oficial. Assim juntei Campus Pirituba Noroeste, mas espero que
em breve o campus mude de nome para Campus Noroeste, região com
diversas lutas populares na cidade de São Paulo.