segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Mesa Redonda: Lutas e Conquistas Populares



 Comemoração de dois anos do  IF SP- Campus Pirituba Noroeste com: 

José Soró – Coordenador da Comunidade Cultural Quilombaque em Perus
Miguel Gomes Lima- Membro da coordenação da união dos movimentos de moradia de São Paulo
Helena Cardoso – União dos Movimentos Populares de Saúde
Vanderley Egidio – Integrante do Mocupija – Movimento Cultural Pirituba Jaraguá
Sandro Baal Demary -Diretor do Teatro Silva


Na primeira semana de agosto o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia – Campus Pirituba, ou como diz os movimentos sociais Campus Noroeste, completou dois anos de existência. A programação de comemoração contou com diversas atividades. Tive a oportunidade de acompanhar uma delas: a mesa redonda lutas e conquistas populares. Segue abaixo um resumo do que aconteceu nela.

Abertura

Na abertura Cynthia diretora do Campus contou um pouco a história do campus Pirituba explicando a definição do dia 08 de Agosto de 2016 como o momento de inauguração, pois foi quando chegaram os(as) primeiros (as) estudantes. Foi uma inauguração acelerada pois a conjuntura da época era nebulosa (Processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff).
A diretora coloca como principal objetivo da mesa redonda dar voz aos movimentos sociais que lutaram pelo Campus do Instituto Federal da região noroeste de São Paulo, abrangendo os distritos de Brasilândia, Pirituba, Jaraguá e Perus, além das cidades de Caieiras, Franco da Rocha e Francisco Morato.
A partir da semana que vem Francisco assume como diretor do campus Pirituba animado com a trajetória do campus. Ele possui cerca de 1800 alunos, sendo pelo menos 580 alunos fixos e os demais dos cursos de curta duração. Francisco foi eleito diretor do Campus Pirituba-Noroestei com 75% de votos numa eleição que contou com alta participação dos estudantes do campus: 75% de votantes.
Na mesa da esquerda para a direita: José Soró, Miguel Gomes, Helena Cardoso,Vanderley Egidio e Sandro Baal Demary

Resumo da fala dos integrantes da mesa 

José Soró
Abrindo a fala dos movimento populares José Soró comentou sobre as dificuldades de se entrar na faculdade antigamente. Em seguida, relembrando suas experiências com a população de rua, jovens, etc. Soró comentou sobre o quão violenta é a sociedade brasileira, lembrando que de cada dez jovens assassinados sete são negros, constituindo-se um verdadeiro genocídio da população preta, pobre e periférica.
Assim sendo, surge no ano de 2005 em Perus, periferia noroeste de São Paulo, o Movimento Cultural Quilombaque, constituindo-se num verdadeiro quilombo de resistência através da arte e da cultura para enfrentar o genocídio da juventude negra.
Com essa ideia, os integrantes do Quilombaque resolveram formar artistas com o objetivo de gerar trabalho e renda na periferia. Além disso, aumentar o universo imaginário e o repertório cultural dos jovens é um dos objetivos do Quilombaque.
Buscando parcerias, durante cerca de 3 anos o Quilombaque criou junto da FAU / USP uma universidade livre e colaborativa que acabou resultando na ideia do Território de Interesse da Cultura e da Paisagem Jaraguá Perus (TICP/JP) inserido no Plano Diretor da Cidade de São Paulo, invertendo a lógica do desenvolvimento/planejamento urbano.
Com esse instrumento jurídico em mãos as ações do Quilombaque buscam as potências dos sujeitos periféricos através da arte, cultura e memória para construir uma identidade com o lugar.
Ocupações culturais diversas surgem desse trabalho apoiados pelo Quilombaque, como por exemplo a Ocupação Canhoba do Grupo de Teatro Pandora e a Casa do Hip Hop no Recanto dos Humildes.
Soró pontua bem que fazer esses movimentos é um ato político de enfrentamento !
“- Se vc não cabe em nenhum lugar, vc cabe lá.” (No Quilombaque).
Finalizando sua fala Soró comenta que pensar uma economia edificante através da cultura e meio ambiente são vitais para gerar trabalho e renda. Dessa forma, a partir do dia 24 de agosto será inaugurada em Perus a Agência Queixadas para gerar trabalho e renda através do turismo e da gastronomia .

Miguel Gomes
Começando sua fala Miguel resgata a história do Instituto Federal Campus Pirituba Noroeste. Primeiramente ele seria na Brasilândia, depois na Fábrica de Cimento em Perus, posteriormente na Avenida do Anastácio e por fim chegou-se ao número 951 da Avenida Mutinga.
Essa luta começa pelos idos de 2009 para a construção do Instituto Federal da região Noroeste. Um abaixo assinado com cerca de 10 mil assinaturas é entregue ao então Ministro da Educação Fernando Haddad que se compromete a construir o campus, desde que a prefeitura de São Paulo disponibilizasse o terreno.
Prosseguindo sua fala, Miguel relembra e homenageia três lutadores da causa que nas suas palavras “Já não estão entre nós” : Fernando Ferreira, Isaias “Batatinha” e Padre Leno. Descansem em paz !
Dessa forma os movimento da região pressionam o prefeito Gilberto Kassab para que se viabilizasse algum terreno para a construção do Campus Noroeste, porém não obtem sucesso. Em 2012, Fernando Haddad é eleito prefeito, reabrindo-se o diálogo com os movimentos sociais da região, garantindo-se assim o terreno da Avenida Mutinga em Pirituba para construção do Campus Noroeste. Ótima localização, próximo da estação de trem Pirituba e do terminal de ônibus Pirituba.
Seguindo na pressão dos movimentos sociais da região, o campus é finalmente inaugurado em agosto de 2016 começo do golpe.
Em suma a luta da igreja e dos movimento sociais foram essenciais para a construção do Campus Pirituba Noroeste. Miguel finaliza sua fala com a seguinte frase:
“ - E o equipamento é do povo e aberto para o povo, assim que deve ser! “

Helena Cardoso
A morada da Parada de Taipas Helena começa sua fala comentando sobre a dificuldade para se estudar na década de 50, pois no bairro de Parada de Taipas existiam apenas duas salas de aula e o exame de admissão para a quinta série existia apenas em Perus.
Prosseguindo sua fala, ela comentou sobre as dificuldades e lutas para se obter os equipamentos básicos na periferia, como asfalto, luz, esgoto, escolas, hospitais, etc. Comentou também sobre as lutas por educação que culminaram na construção das escola Humberto e Raúl Pompeia, atendendo a demanda da região. Pontuou também a importância dos Ceu’s (Centro Educacional Unificado) como importante conquista da região. E finalizou sua fala comentando que o Instituto Federal é a maior conquista.

Vanderley Egidio

Vanderley é integrante do Mocupija ( Movimento Cultura Pirituba Jaraguá). Abriu sua fala comentando sobre a necessidade de se registrar o encontro. Em seguida, pontuou sobre a provocação contida no nome Mocupija, intencionalmente de sonoridade indígena.
Comenta sobre as lutas culturais da região. Pautar o governo sobre as necessidades da região.
O Mocupija começa em 2011/ 2012. Seu objetivo é o de inserir a região Noroeste no mapa cultural da cidade de São Paulo. No ano de 2014 realizam intervenções em espaços públicos, como praças, parques e CEU’s da região.
Em 2016 ocupam o espaço anexo da Biblioteca Brito Broca em Pirituba com diversas atividades culturais, pautando o poder público da necessidade de recuperar esses espaços.
Por fim, finaliza sua fala apontando a insegurança jurídica que envolve a situação dos espaços ocupados com arte e cultura, como o espaço da Brito Broca, mas que ainda não são regularizados pelo poder público.

Sandro Baal Demary
Sandro é diretor do Teatro Silva. Abriu sua fala comentando que o foco específico da sua atuação é trabalhar com jovens de escolas públicas. Comentou também que é inerente ao teatro a relação de interação entre artista e público.
Prosseguindo, provocou os estudantes do Campus Pirituba Noroeste a se conhecerem, para assim superarem o medo de se organizarem enquanto coletivo tendo em mente que os funcionários públicos e gestores é que devem trabalhar para a gente!

Perguntas
Foram feitas por parte do público perguntas para os integrantes da mesa redonda sobre a ditadura militar, se Fernando Haddad será o próximo presidente do país e sobre dialogar com o poder público independentemente da gestão que estiver no poder.

Respostas

José Soró comentou sobre a necessidade na democracia do cidadão ser ativo e participante e o que o movimento cultural das periferias vem criando e inovando, sendo a pressão popular pela Lei de Fomento a Cultura nas Periferias um grande exemplo de atuação democrática.
Ocupação Brito Broca.
Miguel comentou que defender a ditadura militar é pura a ignorância. Relembrou a vala comum no cemitério de Perus. E comentou também que atualmente vivemos uma Ditadura Branca por que o governo não faz investimento na educação, podando as novas gerações de um futuro. Sobre Fernando Haddad presidente, comentou que o plano A é um só: Lula e que o STF deve fazer valer a justiça, pois o ex presidente foi condenado e preso injustamente sem provas.
Vanderley apontou que independentemente da gestão, o movimento social deve “guardar sua ideologia no bolso” e lutar pelo diálogo.
Helena comentou que a ditadura era horrível e que devemos lutar para que ela nunca mais volte a existir.
Soró comentou sobre a difícil identificação das ossadas da vala comum de Perus na qual foram jogadas pessoas mortas por execução e crianças mortas por uma crise de meningite que não foi divulgada na época da ditadura militar.
A diretora Cynthia comentou sobre a necessidade de organizar as demandas para que os gestores desenvolvam as políticas públicas que a população deseja.
José Soró comentou sobre o TICP solicitando que os conhecimentos saiam da universidade e dialoguem com os espaços da cidade.
Em outra rodada de perguntas uma participante cobrou um intérprete de libras para um estudante da instituição, obtendo como resposta da diretora Cynthia que o Instituto Federal vem constantemente cobrando o Ministério da Educação para que essa contratação seja realizada.
Um participante com uma camisa do Lula cobrou a necessidade de se registrar o encontro com algum equipamento de filmagem. Relembrou também as raízes indígenas Guarani da nossa região, afinal o Jaraguá é Guarani!
Por fim, finalizando a mesa redonda a diretora relembrou um pouco sobre a necessidade de passarmos de consumidores de conhecimento para produtores de conhecimento dando - se um salto de qualidade no desenvolvimento do país.
Conclusão
A mesa redonda luta e conquistas populares muito contribuiu para minha formação demonstrando que a classe trabalhadora deve se organizar e lutar para que obtenha seus direitos.




iAdotarei a nomenclatura Campus Pirituba Noroeste, pois os movimentos sociais que lutaram pela sua construção abrangem e adotam a região Noroeste de São Paulo como nome do campus. E Pirituba por ser o nome oficial. Assim juntei Campus Pirituba Noroeste, mas espero que em breve o campus mude de nome para Campus Noroeste, região com diversas lutas populares na cidade de São Paulo.

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